quinta-feira, 29 de outubro de 2009

Formato Mínimo

Começou de súbito

A festa estava mesmo ótima
Ela procurava um príncipe
Ele procurava a próxima


Ele reparou nos óculos

Ela reparou nas vírgulas
Ele ofereceu-lhe um ácido
E ela achou aquilo o máximo



Os lábios se tocaram ásperos

Em beijos de tirar o fôlego
Tímidos, transaram trôpegos
E ávidos gozaram rápido


Ele procurava álibis

Ela flutuava lépida
Ele sucumbia ao pânico
E ela descansava lívida


O medo redigiu-se ínfimo

E ele percebeu a dádiva
Declarou-se dela o súdito
Desenhou-se a história trágica

Ele enfim dormiu apático

Na noite segredosa e cálida
Ela despertou-se tímida
Feita do desejo a vítima


Fugiu dali tão rápido

Caminhando passos tétricos
Amor em sua mente épico
Transformado em jogo cínico

Para ele uma transa típica

O amor em seu formato mínimo
O corpo se expressando clínico
Da triste solidão a rubrica


Samuel Rosa - Rodrigo F. Leão






sexta-feira, 9 de outubro de 2009

O Anjo Mais Velho

"O dia mente a cor da noite
E o diamante a cor dos olhos
Os olhos mentem dia e noite a dor da gente"

Enquanto houver você do outro lado
Aqui do outro eu consigo me orientar
A cena repete a cena se inverte enchendo a minha alma daquilo que outrora eu deixei de acreditar

tua palavra, tua história
tua verdade fazendo escola
e tua ausência fazendo silêncio em todo lugar

metade de mim agora é assim
de um lado a poesia o verbo a saudade
do outro a luta, a força e a coragem
pra chegar no fime o fim é belo incerto...
depende de como você vê o novo,
o credo, a fé que você deposita em você e só

Só enquanto eu respirar
Vou me lembrar de você
Só enquanto eu respirar...

Enquanto houver você do outro lado
Aqui do outro eu consigo me orientar
A cena repete a cena se inverte
enchendo a minha alma d'aquilo que outrora eu deixei de acreditar



Fernando Anitelli

quinta-feira, 8 de outubro de 2009

3ª Do Plural

Corrida pra vender cigarro
cigarro pra vender remédio
remédio pra curar a tosse
tossir, cuspir, jogar pra fora.
Corrida pra vender os carros,
pneu, cerveja e gasolina,
cabeça pra usar boné
e professar a fé de quem patrocina.



Eles querem te vender, eles querem te comprar
querem te matar, de rir ...
Querem te fazer chorar.
Quem são eles?
Quem eles pensam que são?

Corrida contra o relógio,
silicone contra a gravidade
dedo no gatilho, velocidade
quem mente antes diz a verdade.
Satisfação garantida,
obsolescência programada
eles ganham a corrida antes mesmo da largada.

Eles querem te vender,
eles querem te comprar
querem te matar, à sede...
eles querem te sedar.
Quem são eles?
Quem eles pensam que são?

Vender... Comprar...
Vedar os olhos
jogar a rede contra a parede.
Querem te deixar com sede
não querem nos deixar pensar.
Quem são eles?
Quem eles pensam que são?



Humberto Gessinger

sexta-feira, 2 de outubro de 2009

Morte e VIda Stanley

Na madrugada de vento seco
No clarão da grande lua prateada
No recôncavo do sol
Na montanha mais longe do mar
Numa serra talhada espinho fechado coivara caieira vereda
Distancia da rua
Mato cerca pedra fogo faca lenha
Cerca bote bala bote bala bote senha
Tabuleiro tabuleiro em pó
Na pedra dos gaviões
Uma mulher deitada
O nome é Maria
A dor conduzindo o filho terceiro
Nas garras do mundo sem guia
Vai nascer outro homem
Ouviram
Vai nascer outro homem
Outro homem

O seu nome é Stanley
Mais um filho da pedra dos gaviões
Da montanha
Do recôncavo do sol
E eu aqui vou cantar
Sua morte sua vida
Seu retrato sem cor
Seu recado sem voz

Morte e vida Stanley
Morte e vida Stanley
Morte e vida Stanley
Morte e vida

Outro homem

O seu nome é Stanley
Mais um filho da pedra dos gaviões
Mais um homem pra trabalhar
Na cidade sem sol
E eu aqui vou cantar
Sua morte sua vida
Seu retrato sem cor
Seu recado sem voz


Lirinha